Evangélicos brasileiros estão de olho em avivamento nos EUA
No final dos anos 1980, o cristianismo evangélico avançava com força pelo interior do Brasil. A história que vou contar aconteceu em um vilarejo de apenas duas ruas em Goiás, onde moravam, nesse tempo, em torno de 50 famílias.
Um dia qualquer, os adultos de uma família, evangélicos pentecostais, saíram para o culto na Assembleia de Deus. E as crianças que ficaram para trás, entre irmãos e primos, decidiram passar o tempo fazendo um “cultinho” na frente da casa, liderados pelo garoto mais velho, com 13 anos.
“De repente,” conta meu interlocutor, que era uma das crianças, “o clima ficou parecido com o de um culto de verdade. A gente começou a orar em voz alta, falar em línguas. E vizinhos começaram a aparecer para ver o que estava acontecendo.”
Eventualmente o burburinho e a movimentação na rua chamaram a atenção de quem estava na igreja, e eles saíram para ver o que era. “Meu avô, minha avó, minha mãe chegaram e viram que a gente estava em um ambiente muito parecido com o dos cultos, e resolveram levar a gente para a igreja.”
Na roça, as pessoas dormem cedo. 8 da noite a igreja fecha. Mas nesse dia os fieis só saíram depois das 23 horas. “Foi algo especial, e repercutiu muito na vila,” me disse esse interlocutor, que hoje é um acadêmico e esconde sua religiosidade para não ser ridicularizado e perder oportunidades na universidade.
Esse exemplo modesto ajuda quem não é evangélico a avaliar o que acontece na cidade de Wilmore, no estado de Kentucky, no meio oeste dos Estados Unidos.
Na quarta-feira, dia 8 de fevereiro, estudantes da Universidade Asbury se encontraram para participar de um culto que também não terminou no horário marcado. Assim como no caso em Goiás, a notícia se espalhou. A internet ajudou a levar a informação ao vivo para o mundo, e curiosos foram chegando. E, enquanto escrevo este texto, dez dias mais tarde, a igreja continua cheia.
A palavra “avivamento” sugere, para mim, a ideia de fanatismo apocalíptico, mas os muitos registros em vídeo publicados em redes sociais e análises mostram um ambiente de tranquilidade na igreja da universidade. Pessoas louvando e cantando juntas, de maneira empolgada, mas sóbria e organizada.
Vários evangélicos e estudiosos da religião que eu conheço estão intrigados com o que está acontecendo em Asbury. Para uma amiga metodista, esse evento lembrou a infância. “Sinto falta de quando a igreja era um lugar de aconchego, com pessoas modestas que dividiam o pouco que tinham.”
Evangélicos brasileiros acompanham de perto esse evento. Não surpreenderá se a chama saltar para cá.
Fonte: Folha de São Paulo