Lula toma posse diante de centenas de milhares, recebe a faixa de representantes do povo e defende a democracia
Em um dos momentos mais marcantes do dia, presidente subiu a rampa com cidadãos comuns, entre eles uma criança, um homem com deficiência, uma catadora e um indígena.
Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse neste domingo (1º)
como o 39º presidente da história do país. A celebração
do início do mandato levou centenas de milhares de
apoiadores à Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Em um dos momentos mais marcantes, Lula recebeu a
faixa presidencial de pessoas comuns, representantes
do povo brasileiro.
Em discursos, o presidente ressaltou a defesa da
democracia e o foco no combate à pobreza e à fome.
Ao falar de fome, no parlatório do Palácio do Planalto,
de frente para a multidão, Lula chegou a chorar.
Ele também fez críticas ao governo anterior, sem citar
o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Desfile no Rolls Royce
A equipe de Lula não havia confirmado até o início da
tarde se o presidente faria o trajeto até o Congresso
Nacional em carro aberto.
A dúvida acabou quando, no início da tarde, ele subiu
no tradicional Rolls Royce da Presidência. Lula estava
acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, do
vice-presidente, Geraldo Alckmin, e da mulher do vice,
Lu Alckmin.
Lula desfila em carro aberto antes da cerimônia de posse, em Brasília, neste domingo (1º) — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Lula foi oficialmente empossado no Congresso, em
cerimônia diante de parlamentares e do presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Em uma fala de 31 minutos, o presidente exaltou
a “democracia para sempre”.
Lula disse ainda que seu governo vai ser de
esperança, união do país e sem revanchismo.
“Hoje, nossa mensagem ao Brasil é de esperança
e reconstrução. O grande edifício de direitos,
de soberania e de desenvolvimento que essa nação
levantou a partir de 1988, vinha sendo
sistematicamente demolido nos anos recentes.
É para reerguer esse edifício de direitos e valores
nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços”,
disse Lula.
Sem citar o nome de Bolsonaro, afirmou que
irregularidades na pandemia devem ser
investigadas.
“Em nenhum outro país, a quantidade de vítimas
fatais foi tão alta proporcionalmente à população
quanto no Brasil, um dos países mais preparados
para enfrentar as emergências sanitárias”, argumentou.
“Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa
de um governo negacionista, obscurantista e
insensível à vida. As responsabilidades por este
genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar
impunes”, acrescentou Lula.
Faixa presidencial
Ao sair do Congresso, Lula foi para o Palácio do
Planalto e subiu a rampa.
Em uma das cenas mais históricas da posse, ele
subiu acompanhado de Janja, cidadão comuns
(saiba quem são) e a cachorrinha do casal,
chamada de Resistência, em referência ao período
em que Lula passou preso.
Lula recebe faixa presidencial das mãos de representantes do povo brasileiro — Foto: Fábio Tito/g1
No alto da rampa, a faixa passou pelas mãos dos
representantes do povo e foi finalmente entregue a
Lula por Aline Sousa, uma mulher de 33 anos,
catadora desde os 14.
Choro ao falar sobre fome
Já com a faixa no peito, Lula se dirigiu ao parlatório
do palácio, para falar à multidão que o aguardava na
Praça dos Três Poderes.
Foi nesse discurso que, ao falar da fome no país,
Lula chorou.
“Há muito tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas.
Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias
inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo.
Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam
estar na escola vivendo plenamente a infância a que têm direito”, disse.
“Trabalhadores e trabalhadoras desempregados, exibindo
nos semáforos cartazes de papelão com a frase
que nos envergonha a todos: ‘por favor, me ajuda'”,
continuou, perdendo a voz em razão do choro.
Lula se emociona durante o discurso ao falar sobre a fome no país — Foto: REUTERS/Adriano Machado